Por mais de 20 anos, os restos mortais de Lampião e Maria Bonita permaneceram guardados dentro de caixas de madeira na casa da família, longe dos olhares públicos. O “segredo de família” só veio à tona quando, no início dos anos 2000, as netas do casal foram avisadas de que o cemitério onde os crânios estavam sepultados, em Salvador, poderia sofrer mudanças e colocar o material em risco.
A solução encontrada foi levar as peças para casa. “Guardávamos como se fosse qualquer objeto, às vezes até colocávamos no sol”, contou Gleuse Ferreira, de 69 anos, neta do casal. A mãe dela, Expedita Ferreira, única filha de Lampião e Maria Bonita, hoje com 92 anos, confirmou a rotina inusitada.
Em 2021, os crânios seguiram para o Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, onde passaram três anos e meio em análise. Especialistas tentaram extrair material genético para comparar com o DNA da família, mas não obtiveram sucesso, a manipulação frequente e o uso de soluções como querosene comprometeram a preservação.
Ainda assim, os pesquisadores afirmam não haver dúvidas sobre a autenticidade. Segundo o historiador José Guilherme Veras Closs, as evidências confirmam que se tratam das mesmas cabeças que estiveram expostas no IML Nina Rodrigues, em Salvador, e que chegaram à capital baiana em 1938, após a morte do casal na Gruta de Angico, na divisa entre Sergipe e Alagoas.